Como em muitas outras coisas, talvez no meio se encontre a virtude.
Todavia, são do consenso algumas características que enformam a Web 2.0 e a maioria delas põem-na em contraponto com a Web 1.0, ou seja a Internet inicial, quer dizer, será apenas uma evolução permitida pelo desenvolvimento tecnológico, pelas alterações sociais, pelos ajustamentos económicos, enfim, pela lei natural das coisas, tese que compartilho.
Mas quais são essas grandes alterações da versão 1 para a 2?
Bom, esquematicamente podemos representar:
Web 1.0/Web 2.0
DoubleClick/Google Adsense
Ofoto/Flickr
Akamai/Bit Torrent
mp3.com/Napster
Britannica Online/Wikipedia
Sites pessoais/Blogging
Especulação com os nomes de domínio/Optimização de Motor de Busca
Nº de páginas vistas/Custo por clique
Publicação/Participação
Sistemas de gestão de conteúdo/Wikis
Directórios/tagging (“folksonomy)
Sem querer entrar em grandes aprofundamentos, algumas características que podem caracterizar a Web 2.0 ressaltam exactamente dos sites e aplicações que expomos na segunda coluna.
Uma delas e, talvez a mais importante é o abandono do velho paradigma do software e suas aplicações, em que o Netscape foi pioneiro, por contraste com a noção de serviços. E aqui a palma foi levada, sem dúvida pela Google, cujo serviço de pesquisa, como todos entenderão se meditarem um pouco, mudou a nossa maneira de viver, duma forma completa.
Outra grande mudança foi o paradigma da publicação para a participação, isto é, anteriormente eram os anunciantes, os editores, as empresas de software, que dominavam a Web, o seu mercado, as ideias, as notícias, os anúncios, os textos de referência, tendo tudo isso passado para o domínio da “multidão anónima”, cuja participação se intensificou e alargou a níveis impensáveis há pouco tempo, o que mudou o rumo da forma como entendemos e utilizamos a Web. Exemplos?
A DoubleClick dominava o mercado dos anúncios mas quem dominava os anúncios e tudo o que lhe dizia respeito eram os anunciantes. A Google através do seu programa Adsense fez com que todos pudessem participar neste mercado, sendo, em última instância, os consumidores quem decide quais os anúncios que quer e onde os quer, indirectamente, com os seus cliques, tudo isto gerido através duma automatização proporcionada pela imensidão de servidores da Google.
Isto levou a que a chamada “Cauda Longa”, isto é, a maioria dos sites, vendedores, consumidores, público em geral, passasse a ter uma oportunidade de negócio que lhe estava vedada face ao domínio das grandes empresas. A Cauda Longa (“The Long Tail”) representa a esmagadora maioria dos sites e produtos que, embora de pequena dimensão, todos somados, representam um mercado imenso e que só foi possível emergir através, precisamente, da Web 2.0, isto é, do enfoque nos “pequenos”, na “massa anónima”, proporcionada pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e dos serviços acima mencionados.
Mais um exemplo. Todos sabemos que dezenas ou centenas de milhar de pessoas vivem hoje, exclusivamente, do ebay. Seria isto possível antes?
Outros exemplos em que o trabalho colaborativo, participado, aberto e livre ultrapassou a coesão e exclusividade dos antigos “tubarões” foram: a Wikipedia face à Enciclopédia Britânica. O saber das multidões “ultrapassou” o dos sábios. A Wikipedia tem hoje em dia muito mais entradas/informação que a Britânica. O risco a correr é a recolha de informação incorrecta, o que não é um risco muito grande se constatarmos que a esmagadora maioria de imprecisões e informações erradas postadas, são corrigidas em pouco tempo. É esta a sabedoria das multidões (“The Knowledge of the Crowds”);
O software livre face ao controlado;
A descentralização do Bit Torrent face à centralidade dos fornecedores de software, ficheiros musicais, etc.
Estes dois serviços, para além dos outros, demonstram a verdade emergente na Web 2.0: “Quanto mais pessoas usam os serviços, melhores eles se tornam”. E face ao controlo das antigas companhias, emergiu o trabalho colaborativo das massas, frequentemente originado serviços gratuitos ou muito mais baratos.
E de tudo isto emerge ainda outra característica. Já não são as companhias, através da sua publicidade, quem nos “informa” sobre os produtos, notícias, etc. Hoje em dia, criam-se comunidades facilmente, de interesses comuns, as pessoas comentam, reclamam, elogiam, e tendemos a confiar em algumas delas, mais do que no que nos dizem as empresas, para tomar as nossas decisões. Nada de diferente do que confiar mais no vizinho, no amigo, no conhecido, que nos dá uma dica sobre um qualquer assunto, sobre um qualquer produto que necessitemos comprar. Agora os “amigos” em cujas opiniões confiamos (aprendemos a confiar ao longo do tempo) estão na Web.
Os próprios meios de comunicação (televisão, jornais, revistas, etc.) sofrem neste momento um abalo com a profusão de blogs, cujo impacto desprezaram de início. Face às regras que o mercado impõe, os canais de notícias instititucionais tornaram-se pardacentos, mainstream, alinhados pelo padrão da mediocridade e, é hoje evidente, que a luta contra os poderes instalados, a desmistificação e a crítica relevante passará cada vez mais pela blogosfera.
Mas as próprias grandes empresas, aquelas que não estão propriamente a dormir, já se alinharam por este novo paradigma e, muitas delas, em vez de esconderem as suas investigações e inovações, colocam-nas à disposição de todos e através de parcerias mais ou menos abertas conseguem cooptar, a nível mundial, como a Web permite, a colaboração dos melhores e inúmeros especialistas da matéria em questão, levando à criação de produtos com muito mais valor acrescentado.
Ou seja, se uma empresa não quiser perder o comboio é melhor que crie e desenvolva algumas destas competências base:
- Serviços, não software em pacote;
- Controlo sobre as bases de dados, não sobre as aplicações;
- Confiança nos utilizadores como colaboradores;
- Aproveitamento da inteligência colectiva;
- Abrangência da cauda longa.
- Software em desenvolvimento contínuo (perpetual beta)
Ah, só para terminar: Tim O’Reilly, presidente da referida editora O’Reilly e participante activo na “brainstorming” que cunhou o termo Web 2.0 e primeiramente analisou as suas características, entretanto moveu vários processos e ameaças sobre outras pessoas e companhias que utilizaram o termo para promover os seus produtos. Wht should we say? Ridiculous.
Seth Godin, especialista de marketing e grande devoto da evolução da Internet, à qual tem dedicado grande parte da sua vida enquanto instrumento de negócio, analisando e projectando o futuro e que vai divulgando as suas teses em livros, conferências, etc., pôs a mão na massa e criou mais um serviço Web 2.0: o Squidoo.
Segundo ele, embora o Google tenha revolucionado todo o nosso modo de vida tornando fácil a pesquisa de informação, essa era já terá chegado ao fim. E isto porque o que o Google faz, segundo ele, é dar-nos resultados, pistas, mas não significado, sentido. E na voragem dos tempos e manancial de informação existente, ficamos perdidos. É preciso mudar o paradigma.
A nova a abordagem proposta por Seth Godin é que, sendo todos nós especialistas em algo, em um (ou mais) tema, cada pessoa pode, no Squidoo, criar uma página sobre um determinado tema, onde colocará todos os seus conhecimentos sobre o mesmo, links relevantes apontando para sites/blogs/posts sobre esse tema, livros (com ligação possível à Amazon), recensões, artigos, e toda uma panóplia de Plug-ins/widgets já preparados que pode incluir nessa página. Enfim, a imaginação é o limite.
O argumento de Godin é que assim a informação relevante sobre um determinado tópico será mais facilmente encontrada evitando perdas de tempo a flanar sobre as pesquisas desgarradas apresentadas pelo Google, que nos levam a perder imenso tempo e que tornam difícil, morosa e mesmo virtualmente impossível efectivação de um sentido para aquilo que queremos.
É a tese que explanámos acima: tendemos a confiar em alguém, e sobretudo nos especialistas.
Como “rebuçado” Seth dá-nos a possibilidade de ganhar algum dinheiro através dos cliques que os visitantes façam em anúncios da nossa página Squidoo. É óbvio que ele estará já a fazer bom dinheiro com a ideia...
Em que medida esta faculdade se enquadra na Web 2.0. Bom, logo à partida baseia-se no trabalho das pessoas, da inteligência colectiva, e não na de instituições, mais ou menos poderosas. À moda da Wikipedia. Como as lentes (páginas criadas pelos especialistas sobre um determinado tema, no Squidoo, e que, supostamente, concentrarão muita informação relevante sobre esse tema, dando-lhe sentido, formando um corpus) estão interligadas, há sempre a possibilidade de as pessoas que se dedicam a um mesmo tema, ou a um tema directamente correlacionado, obterem informação relevante e conhecerem-se, trocando ideias e experiências.
Por outro lado, como as informações são compiladas e escritas por pessoas, criar-se-á uma relação de confiança com algumas, sobre um determinado tema, que não nos farão perder tempo em pesquisas, comparações, alcance de sentido e seguiremos as suas indicações de modo menos preocupado. Tal como na vida real, em que confiamos nos amigos, conhecidos, mais ou menos especialistas ou que já passaram por experiências semelhantes, para a tomada das nossas decisões, sejam de consumo, sejam de outra estirpe qualquer.
Veremos se o facto de muitas pessoas aderirem a este serviço, com a natural profusão de páginas dedicadas ao mesmo tema, não nos faz cair naquilo que Godin critica no Google: a grande dificuldade de encontrar informação relevante e que faça sentido.
Cá estaremos para ver a evolução. Eu para já vou experimentar.
Veja as minhas lentes em:
recursos blogger
electricidade
educação
Ainda estão num estado embrionário, mas se o tema vos interessa, marquem-nas nos bookmarks e vão passando por lá de vez em quando, se os temas vos interessarem. Neste último caso, se quiserem dar uma mãozinha no seu desenvolvimento, é sempre bem vinda.
E criem e/ou dêem-me a vossas.
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