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O Tigre Branco - Aravind Adiga


Acabei de ler de um fôlego o livro que mereceu o Man Booker Prize do ano passado.
Ok, para começar as más notícias. É sinal dos tempos que este livro ganhe um prémio tão importante, uma vez que não se trata, nem por sombras, de uma obra literária de vulto.
Dito isto, o livro capta-nos a atenção desde a primeira página, não devido à escrita, que é fluída e de leitura fácil, mas não especialmente inspiradora.
Mas, com a leitura facilitada, o tema tratado, que é interessante, actual, politicamente incorrecto e tratado de um modo mais ou menos cru, ganha um alcance que justifica plenamente o prémio.



Título: O Tigre Branco
Autor: Aravind Adiga
Tradução: Alice Rocha
Editora: Editorial Presença
Ano: 2009
Ano original: 2008
Nº de Páginas: 242
ISBN: 978-972-23-4100-4


Trata-se da história de um aldeão indiano, natural da "Escuridão" (zona interior da Índia) que, por ser feito de uma massa diferente, não está disposto a ter uma vida de escravo igual ao seu pai, aos seus familiares, aos seus conterrâneos, enfim , a todos os que se encontram no interior do "galinheiro".
Então consegue vir para a cidade (Deli) como motorista de um filho de um senhor do carvão e que aqui aprende todos os truques, vícios, modos de vida e corrupção da classe dominante rica, da polícia e de tudo o que gravita na órbita do Estado.
E, a certa altura, após muito matutar, dá o passo final, mesmo sabendo as consequência separa toda a sua família e, até, conterrâneos: Assassina o seu patrão, usurpa-lhe a identidade, corrompe a polícia para iniciar a sua "start up" em Bangalore, torna-se num empresário indiano da subcontratação de sucesso e, nesta nova situação, torna-se num intocável, como os seus antigos patrões e toda a classe dominante rica do país, utilizando exactamente os mesmos meios que eles.
O que torna mais interessante o livro é a forma como o autor toca e trata assuntos candentes e tabu:
- Afinal a emergência económica da Índia é um mito pois apenas contempla uma pequena minoria corrupta e que utiliza todos os expedientes para ultrapassar as situações. A esmagadora maioria da população continua na mais violenta miséria (se calhar até mais), quase todo o país continua sem esgotos, água potável, estradas, electricidade;
- Afinal a emergência de certos empreendedores (tão elogiados, também entrte nós) não se deve mais do que à utilização de métodos completamente imorais, sem ética, desonestos, corruptos, etc. que apenas se limitam a usar a "lei do mais forte" para subjugar os mais fracos, sob o manto diáfano da "democracia" que tudo justifica;
- Afinal Bengalore, a capital deste movimento, é uma gota no oceano que é a Índia, e, muitas das vezes, uma gota muito poluída.
- Afinal os tribunais e a "justiça" existem para investigar, investigar, investigar, dar que falar, dar que falar, dar que falar... numa voragem que se auto-alimenta e que nunca chega a conclusão nenhuma, utilizado apenas para proteger os mais poderosos e tramar os que os têm a ousadia de os confrontar com os seus podres;
- Afinal a "democracia" é apenas um biombo conveniente para se cometerem todo o tipo de atropelos que sempre se cometeram. No livro há uma cena em que um aldeão se revolta e pretende votar (lá os votos são comprados antecipadamente, aqui havemos de lá chegar...) - claro que é simplesmente morto à pancada pelos "sabujos" do senhor da terra;
Desculpem toda esta aparente revolta exposta nas palavras acima. Mas esse é o verdadeiro valor do livro, faz-nos pensar em coisas que já não pensamos há muito, pois estão ocultas.
Ah, curiosamente, ou talvez não, todo o livro é escrito como se de uma carta ao primeiro-ministro chinês se tratasse...










                         


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