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Malcolm Gladwell - "Outliers"


Este livro de Michael Gladwell ("Outliers" - Os melhores, os mais inteligentes, os mais bem sucedidos - Porque muitos têm sucesso e outros não?) chega a ser brilhante em certos aspectos. OK, confesso, aquilo que me leva a embirrar um pouco com o livro e com o autor é, já no fim, quando ele se arma em treinador de bancada para os assuntos da educação. Já os temos de mais por cá e, por deformação profissional fico sempre de pé atrás quando alguns "teóricos" começam a mandar "bitaites" sobre um tema no qual estou mergulhado já lá vão mais de vinte anos.


Autor: Malcolm Gladwell
Título: Outliers - A História do Sucesso
Editora: Dom Quixote
Tradução: Manuel Marques
Data de publicação: Novembro de 2008
Data de publicação original: 2008
Nº de páginas: 307
ISBN: 978-972-20-3717-4

O livro explica-nos, com provas, porque algumas pessoas têm sucesso e outras não. A tese base é o esforço desmedido dessas pessoas (o autor diz-nos que está provado que são necessárias 10 000 horas de dedicação e prática de uma determinada actividade para nos podermos considerar especialistas nessa actividade). Até aqui nada de novo. Mas o autor prova-nos muito bem que só isso não chega... É imprescindível ter também (e algumas gerações/actividades nunca as têm) as oportunidades, saber agarrá-las, e tudo isto ainda necessita de um lastro, ou legado, que se obtém na família e relações sociais que, por sua vez também dependem muito do legado cultural do grupo de que se é originário e que tem influência desde há séculos atrás e não apenas das últimas gerações.
Tudo isto é provado com inúmeros exemplos e estudos duma forma escorreita e convincente e, para mais, trazendo à tona aspectos com que todos concordamos mas que se encontram escondidos pela "espuma dos dias" que nos leva a pensar sempre que o sucesso anda de mãos dadas com o génio. O que não é verdade.
Por exemplo, sabia que quase todos os hoquistas sobre gelo das melhores selecções nasceram em Janeiro e Fevereiro. E porquê? Porque começando as épocas desportivas desse desporto a 1 de Janeiro, nas idades mais tenras é uma enorme vantagem uns meses a mais em relação aos competidores. E isto vai gerar um efeito de "bola-de-neve" em que os olheiros e treinadores acabam por escolher esses atletas para terem melhores condições de trabalho e treino e assim essa vantagem inicial vai-se sempre alargando até à idade adulta.
Por outro lado mostra-nos como Bill Joy (o maior programador de sempre) e Bill Gates (dispensa apresentações), além de génio, esforço desmesurado, uma família favorecida, etc., só se puderam guinar ao seu estatuto devido a terem nascido quando nasceram, o que lhes permitiu viver a idade dos desenvolvimentos informáticos adequados quando não eram demasiado jovens ou demasiado velhos, para além de terem tido a sorte de ir parar a escolas pioneiras e visionárias nos ramos em que vieram a ser influentes, tudo isto acrescido de inúmeros "pormenores" que coincidiram no desenvolvimento da sua carreira e os alcandoraram ao lugar que hoje ocupam.
Gladwell mostra ainda:
. Que um QI elevadíssimo não é sinónimo de sucesso, usando as histórias de Chris Langan (um QI superior ao de Einstein) e Opennheimer, em que o último obteve sucesso devido a uma característica essencial: a sua inteligência social que lhe permitiu encaminhar as decisões de superiores para o lado que pessoalmente lhe convinha e a desastrosa inabilidade social do primeiro que o levou ao insucesso. E tal verificou-se devido ás histórias familiares de ambos, completamente antagónicas;
. Por que é que os judeus se transformaram nos maiores advogados e donos de escritórios e advogados do pós-guerra;
. Por que é que os pilotos sul-coreanos se viram a braços com inúmeros desastres aéreos em poucos anos (legado cultural);
. Por que é que os chineses são mais aptos para as matemáticas;
etc.

Trata-se realmente de um livro bem escrito, com teses inovadoras mas convincentes, explicativas, descritivas e baseadas em estudos ou casos conhecidos e pormenorizados.
Ah, mas aquele capítulo sobre a educação é bastante discutível. Concedo que o problema seja meu, devido a deformação profissional mas a crer nas teses do autor caímos no perigoso neo-liberalismo que nos traz aos tempos que correm, em que gerações e gerações de homens e mulheres lutaram durante séculos para obter os direitos que têm e de uma penada os vêm coartados porque é preciso ser competitivo com a escravidão dos trabalhadores da China... não poderia ser ao contrário?
Concedo ainda que o neo-liberalismo levou a América àquilo que é hoje e que eu admiro bastante, com algumas coisas menos boas mas com muitas melhores que todos os outros sistemas e países conseguiram produzir.
Mas, desculpem-me, em matéria de educação, neste momento estou um bocado farto de treinadores de bancada... e não concordo com as teses do autor. Penso que haveria outras maneiras de obter bons resultados e mais alargados até, não faltasse a vontade política para tal. Uma boa pista alternativa para se começar pode ser encontrada aqui.
Se isto não faz grande sentido para vocês, leiam o livro e perceberão.











                         


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2 Comentárioa


Anónimo disse...

Oi Luis, escrevi uns textos sobre o Outliers no meu blog também. O primeiro deles está em http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2008/11/outliers-malcolm-gladwell.html
Espero que goste! Atenciosamente, Rodolfo.
(Há também resenhas de livros parecidos com os seus. Veja em http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/livros/)

Unknown disse...

Obrigado Rodolfo.
O seu blog está óptimo. já dei uma vista de olhos e, para já, fiquei com vontade de ler The "Innovators dilemma: when new technologies cause great firms to fail”. Vou comprar na Amazon pela certa.
Irei passando pelo seu blog e também já o coloquei no meu blogroll (veja na barra lateral).
Se puder retribuir, agradeço.
Cumprimentos.

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